Mais que apenas dificuldades de concentração, transtorno afeta pessoas em vários aspectos da vida pessoal, incluindo a aprendizagem
Se você está com dificuldade em manter uma rotina de estudos, se vê facilmente distraído e se esforça para ter concentração, isso não necessariamente significa que você tenha Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mas vale se atentar aos sinais. É que por trás de uma onda de autodiagnósticos baseadas em informações duvidosas nas redes, há muitos fatos sobre o TDAH que passam despercebidos.
Com uma alta incidencia genética, prejuízos em vários aspectos da vida pessoal e características na maioria das vezes perceptíveis na escola, o TDAH tem uma incidência estimada entre 5% a 8% da população mundial, de acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA). Alguns tem o transtorno mais voltado para a desatenção, outros para o comportamento inquieto e impulsivo, e outros do tipo misto.
Um dos fatos sobre o TDAH é que grande parte da população acredita que o transtorno só atinja crianças, o que não é correto, já que muitos adultos sofrem com a doença. O que acontece é que geralmente esses sintomas são mais perceptíveis em pessoas em idade escolar. Há também pessoas em que o TDAH deixa de se manifestar na fase adulta, enquanto outros só descobrem a condição nessa idade.
Muitos aspectos e fatos sobre o TDAH seguem desconhecidos por grande parte das pessoas, e informações desencontradas e sem fundamentos científicos e profissionais seguem rondando a internet, sendo cada vez mais comum casos de autodiagnósticos e uso absusivo de medicamentos. Também é importante entender que a condição não determina o histórico acadêmico de uma pessoa.
A psicóloga e docente da UniBRAS Montes Belos, Suzy Souza, alerta que embora o transtorno cause inconvenientes reais no processo educacional, ele não deve ser interpretado como uma barreira permanente nos estudos, mas sim como um obstáculo a ser superado com estratégias pedagógicas específicas, acompanhamento com profissional de saúde mental e postura ativa.
“Embora o TDAH apresente desafios reais no processo de ensino-aprendizagem, ele não define o potencial de um estudante. Muitas vezes vemos alunos e pais usando o transtorno como uma forma de isenção de esforço, quando na verdade o desenvolvimento é possivel com o apoio adequado”, aponta a profissional.
Entre os sintomas e fatos sobre o TDAH que a docente afirma como mais comuns estão a dificuldade com atenção e concentração, problemas com organização e
planejamento, impulsividade, baixa auto estima, frustração, memória operacional prejudicada, e em alguns casos hiperatividade.
“O mais importante é cultivar a consciência de que o transtorno exige adaptações, mas não exime responsabilidades. Necessita-se atenção, não superproteção. Quando há diálogo e orientação, o TDAH deixa de ser um limitador e passa a ser apenas uma característica a ser administrada”.
Com a relevância da temática no cenário acadêmico, e também com o objetivo de esclarecer mais sobre o transtorno e combater a desinformação, listamos abaixo 5 fatos sobre o TDAH enfrentados por quem tem a condição que talvez você não saiba.
1. Procrastina como escape das dificuldades de concentração
Um dos fatos sobre o TDAH mais comuns é a dificuldade em levar projetos a frente, sejam profissionais ou pessoais. E não se trata somente de tarefas mais complexas, mas também coisas simples, como terminar de ler um livro já iniciado, por exemplo. Muitas vezes essa procrastinação vem após episódios de profundo entusiasmo com a atividade, seguidos por forte desinteresse.
Para além de uma comum falta de disciplina, essa característica também tem a ver com dificuldades de organização, manutenção do foco, gerenciamento de tempo e adequado controle emocional. A ausência desses traços, chamados de funções executivas, corroem boa parte das metas estabelecidas por esse indivíduo, levando a uma profunda frustração.
As saídas mais simples podem ser estipular metas mais acessíveis e realistas, separar um tempo razoável para cumprir atividades importantes no dia a dia, além de fixar lembretes visuais pelo ambiente doméstico ou laboral.
2. Não gosta de rotina, mas precisa muito dela
Se há um dos fatos sobre o TDAH que parecem mais contraditórios e polêmicos é sua relação com a rotina. Isso porque pessoas com o transtorno têm grandes dificuldades para cumpri-la, alegando tédio ou cansaço com mais frequência. Vale estacar que a impulsividade é um denominador comum para quem tem TDAH, com uma necessidade maior em ter rápidas recompensas ao realizar atividades que exigem maior esforço.
Por outro lado, estabelecer uma rotina equilibrada, com períodos de tempo de trabalho ou estudos adequados, junto a outros períodos reservados a atividades livres é uma das maneiras mais simples para superar os prejuízos do transtorno. Por isso, muitos vivem uma relação cíclica de amor e ódio com a rotina, variando entre o cumprimento e descumprimento de tarefas e tendo graves prejuízos com esse comportamento.
Mas como implementar com sucesso uma rotina se há uma grande resistência a ela? Os especialistas explicam que a melhor maneira de vencer esse círculo vicioso é
entender suas maiores necessidades pessoais, profissionais e acadêmicas, e organizar uma grade realista de horários, com rotina previsível e constante.
Nesse sentido, é importante que o indivíduo alterne horários estabelecidos para trabalhar e estudar, com outros horários de lazer e descanso. A alimentação adequada e atividades físicas são chaves para o sucesso dessas medidas. É importante ainda ter um espaço limpo, silencioso e organizado de estudos – além de sempre dividir as tarefas em etapas menores.
3. Pode se beneficiar de métodos de estudo alternativos
Se estudar de maneira tradicional não gera grandes resultados, pode ser hora de buscar metodologias pedagógicas alternativas. Técnicas como o método pomodoro, em que o estudante intercala períodos curtos de estudo com pausas regulares, ou a técnica Feyman, em que se revisa o conteúdo estudado “ensinando” a outra pessoa costumam funcionar entre pessoas com TDAH.
Outros recursos que auxiliam bastante no processo de foco e memorização são a prática de resumos, o uso de flashcards e lembretes visuais, os mapas mentais e organogramas.
4. Precisa se atentar ao uso de medicamentos
Como qualquer tipo de medicamento psicotrópico, o uso de substâncias para aliviar o sintomas do TDAH podem ter enorme sucesso no tratamento, mas devem sempre ser introduzidos e retirados com cuidado e acompanhamento de um médico. É esse profissional que tem o conhecimento específico sobre as vantagens e ricos desses medicamentos, e pode administrá-los com segurança.
Medicações como o metilfenidato, lisdexanfetamina e o cloridato de atomexina são algumas das substâncias mas receitadas pelos médicos para o TDAH, com diversos nomes comerciais. No entanto, quando utilizados de forma abusiva, podem levar a dependência química e outros efeitos colaterais psicológicos e físicos graves.
A comunidade médica tem notado inclusive um aumento no abuso desses medicamentos, mesmo entre pessoas que não tem o transtorno diagnosticado. Com o avanço da autodiagnosticação e a automedicação, o uso dessas substâncias requer especial atenção por parte da comunidade acadêmica.
5. Só pode ser diagnosticado por um profissional
A internet pode ser uma fonte de alerta e informação importante, mas um dos fatos sobre o TDAH é que simplesmente alguns sintomas como desatenção constante, dificuldade em levar adiante rotinas diárias e impulsividade não são suficientes para diagnosticar o transtorno.
Além desses sintomas poderem estar presentes em outros diagnósticos de transtornos mentais, eles também podem ser resultados de um estilo de vida acelerado, muito atarefado ou do abuso de dispositivos eletrônicos – comportamentos muito comuns hoje em dia. O certo é que só um profissional de saúde mental é capaz de reunir as queixas e dificuldades de um indivíduo e estabelecer um diagnóstico ou não.
Entre os profissionais adequados para fazer essa análise estão psicólogos, psiquiatras e neurologistas. Assim, em caso de suspeita do TDAH, o primeiro passo a seguir é buscar ajuda profissional. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)