Alvo de perseguições históricas, cinema brasileiro segue sendo um retrato fiel da identidade cultural do nosso país
Que o cinema nacional é um orgulho para o Brasil, todos já sabem. Como um dos maiores expoentes da cultura brasileira, nosso audiovisual já nos presenteou com momentos de alegria diversas vezes, e é celebrado mundo afora. Mesmo com problemas rotineiros de financiamento, censura e perseguição institucional, o cinema brasileiro resistiu, e instituições como a Ancine e a Cinemateca Brasileira são provas disso.
Atores como Fernanda Montenegro, Sônia Braga, Wagner Moura, Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos. Diretores como Hector Babenco, Glauber Rocha, Anna Muylaert, Fernando Meirelles. A lista é infinita. E não importa se não temos Oscar: a premiação de Hollywood é feita pelo cinema americano para celebrar a própria indústria, e aquele Oscar em que Gwyneth Paltrow vence Fernando Montenegro na edição de 1999 é uma das maiores injustiças da história. Mas nada que o excelente cinema nacional não supere!
Para além do entretenimento, o cinema nacional também é uma excelente oportunidade de aprender mais sobre o Brasil, nossas particularidades, avanços e problemas. É sempre importante lembrar o quanto o cinema é marcante para nos fazer refletir sobre nossa realidade e possibilidades. Nesse sentido, a arte também é educativa, além de terapêutica. O cinema de um país é parte significativa da identidade de seu povo.
O pedagogo e docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Bruno Inácio, explica que, em seu mestrado, ele aborda a questão dos aspectos socioculturais no processo de aprendizagem, utilizando uma perspectiva do sociólogo francês Pierre Bourdieu, na qual quanto maior o arcabouço cultural das pessoas, mais elas se sobressaem na sociedade.
Nesse sentido, o contexto das avaliações das instituições de ensino podem contribuir para agravar os distanciamentos das classes sociais, já que alguns alunos estão privilegiados no quesito cultural que outros, com menos recursos financeiros.
“O cinema representa uma das expressões culturais, e dependendo da escola, se for de uma comunidade mais pobre, quando eu pergunto quantos alunos conhecem o cinema, apenas 10% da classe levantam a mão. Isso é marcante para nós educadores. Nós inclusive desenvolvemos um projeto para levar esses alunos ao cinema, e foi muito bacana a experiência”, relata.
Ele explica que, infelizmente, há um pensamento de que esses espaços culturais já estão acessíveis a toda a população, mas essa não é a realidade. Isso porque muitas vezes esses lugares não fazem parte da rotina dos pais dessas crianças. “No mestrado, e agora no doutorado, nós abordamos as várias possibilidades e instigações para que o professor possa aumentar esse repertório cultural do aluno, e o cinema é uma dessas possibilidades”.
Considerando que no dia 19 de Junho celebramos o Dia do Cinema Nacional, separamos uma lista com 5 filmes marcantes do audiovisual brasileiro para você conferir. Separe a pipoca, e bom cinema!
2 Filhos de Francisco
Diretor: Breno Silveira
2005
132 min
Globoplay
Quem pensava que o cenário rural e caipira do interior de Goiás não tinha chances na telona, pensava errado. Quando 2 Filhos de Francisco foi lançado no circuito nacional, em 2005, se tornou uma sensação. Dirigido por Breno Silveira, o filme conta a trajetória ao sucesso da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano, que são incentivados pelo pai a se engajarem na cena musical ainda muito jovens.
Com o enredo simples e acolhedor, o filme se converteu num dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional, com mais de 5,3 milhões de espectadores.
Central do Brasil
Diretor: Walter Salles
1998
113 min
Globoplay
Quando a personagem de Fernanda Montenegro (Dora) aparece como escritora de cartas para analfabetos na Central do Brasil, estação ferroviária de trens metropolitanos do Rio de Janeiro, a primeira impressão é de repulsa. Mas aos poucos, toda aquela aversão vai se mostrando insuficiente para entender a complexidade a qual Dora vai se transformando ao longo da história, e é impossível não chorar no final.
Causando impacto e profunda emoção, Central do Brasil é um retrato amargo e difícil do país que foi muito bem representado no cenário do cinema nacional. E foi além: rendeu duas indicações ao Oscar, por melhor filme estrangeiro e melhor atriz para Fernanda Montenegro. Também recebeu prêmios no festival de Berlim, BAFTA, Golden Globe e vários outros.
Lisbela e o Prisioneiro
Diretor: Guel Arraes
2003
110 min
YouTube
Aqui o nordeste é que é o destaque. Lisbela (Débora Falabella) é uma jovem inocente que mora no sertão nordestino e adora clássicos de Hollywood. O que ela talvez menos esperava é que essa sua paixão a levaria à outra: o malandro conquistador Leléu (Selton Mello). Essa história contada por meio de um roteiro cativante se tornou um grande clássico do cinema nacional.
Inspirado na obra de Osman Lins e dirigido por Guel Arraes, Lisbela e o Prisioneiro conciliou sucesso de crítica e público.
Aquarius
Diretor: Kleber Mendonça Filho
2016
145 min
Globoplay
No Recife. uma jornalista muito orgulhosa de seu apartamento em frente à Praia da Boa Viagem resiste à qualquer proposta de vender seu imóvel, localizado no Edifício Aquarius. Mas com a especulação imobiliária na região, ela se vê encurralada por uma série de acontecimentos estranhos e pressões de gente poderosa, com o objetivo de que ela se desfaça do lugar em que vive há décadas, com o qual tem um forte vínculo emocional.
Protagonizado por ninguém menos que Sônia Braga, a grande dama do cinema nacional, Aquarius chama a atenção por retratar a realidade de diversos proprietários espalhados principalmente pelas grandes cidades brasileiras, imersos no drama de assédios e ameaças constantes feitas por empreiteiros interessados em seus imóveis.
Praia do Futuro
Diretor: Karim Aïnouz
2014
106 min
Globoplay
Um salva-vidas que atua na Praia do Futuro, na capital cearense, resgata um turista alemão com quem celebra uma forte amizade. Aos poucos os dois se apaixonam. Sem antes nunca ter vivido um romance com outro homem, Donato desiste da profissão e se muda para Berlim junto a seu amante. A história acaba se complicando quando seu irmão mais novo, Ayrton, o encontra na capital alemã após a morte da mãe deles.
O filme conta com os grandes atores brasileiros Wagner Moura e Jesuíta Barbosa, além de ter também como protagonista o ator alemão Clemens Schick, e veio como um divisor de águas no cinema nacional ao abordar a temática LGBTQIAPN+ de forma direta nas telonas brasileiras, sendo inclusive alvo de protestos de grupos conservadores.
Com colaboração alemã, Praia do Futuro é um excelente exemplo do quanto a cultura popular é importante na construção do nosso processo de identidade pessoal. Também aborda os prejuízos sofridos por quem faz parte de um grupo vulnerabilizado socialmente.
(Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação BRAS Educacional)