Membros da comunidade são vítimas recorrentes de preconceito antes e após contratação
Lidar diariamente com as adversidades, diferenças de comportamento e visões de mundo é uma tarefa que demanda mais para algumas pessoas que outras. Mais difícil ainda é para quem está do outro lado, e tem a missão de se desenvolver profissionalmente, enquanto lida com comportamentos e atitudes de colegas e da empresa que nem sempre são positivos. Essa é a realidade quando se fala em empregabilidade LGBT, questão ainda espinhosa para muitas empresas.
Uma pesquisa realizada pela Catho, em parceria com a rede social LinkedIn, mostra que 35% dos entrevistados membros da comunidade já sofreram algum tipo de preconceito no ambiente de trabalho. Para piorar, essa não é a única questão quando o assunto é empregabilidade LGBT. Outra pesquisa da consultora Mais Diversidade aponta que 54% das pessoas Queer não se sentem seguras em falar abertamente sobre sua realidade em seus trabalhos.
Na mesma pesquisa, cerca de 74% dos entrevistados também afirmaram que sentem falta de um ambiente profissional mais inclusivo, e outros 54% afirmaram desejar mais referências de pessoas LGBTQIAPN+ no trabalho. Esses números confirmam o ciclo de dificuldade que pessoas da comunidade enfrentam, e se reflete também em sua capacidade de igualdade social, já que sem o devido emprego, suas chances de inclusão diminuem drasticamente.
O T é ainda mais complicado
Se a orientação sexual pode complicar as coisas quanto o assunto é trabalho, ter uma identidade de gênero que fuja do padrão cis pode ser um gargalo ainda maior na questão da empregabilidade LGBT. Por meio do relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), foi possível ter uma análise maior do preconceito sofrido por pessoas transgêneras no mercado de trabalho.
Em 2022, somente 4% das mulheres trans do país tinham emprego formal. Relatos de negativas em entrevistas são muito comuns entre pessoas transgêneras, o que as empurra para a informalidade, e mais além, os serviços sexuais, que se tornam a única maneira de sobreviver. Dados da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sobre insegurança alimentar na pandemia mostraram que 7 em cada 10 pessoas transexuais não tinham o suficiente para se alimentar de forma adequada.
Essa dinâmica de discriminação afeta diretamente a autoestima dessas pessoas, e as impossibilita de ter liberdade financeira e sair de situações de vulnerabilidade. No entanto, muitas dessas situações não são aparentes, sendo mais comum o preconceito velado. Vale ressaltar que, por meio de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2019, situações de discriminação por orientação sexual e identidade de gênero são equiparadas a racismo, e portanto sujeitas a prisão.
Outra questão que afeta a empregabilidade LGBT, em especial os transexuais, é a falta de qualificação. Isso porque as situações sistemicas de discriminação e violências – sejam físicas ou psicológicas – afetam diretamente o nível de escolaridade e educação como um todo, sendo a evasão escolar um grande problema dessa população.
É nesse sentido que muitas empresas e instituições têm focado em projetos de capacitação e vagas afirmativas visando a melhora nos índices de empregabilidade LGBT.
Instituições de olho na diversidade
Trazer para dentro da sua empresa um número cada vez mais diverso de pessoas pode enriquecê-la de maneira fundamental num mundo cada vez mais aberto. No entanto, é sempre importante entender que não basta somente contratar. É preciso ainda estar atento se, dentro da organização, há estrutura para manter o ambiente de trabalho o mais saudável e acolhedor possível.
Assim, é importante que essas instituições estejam de olho em fatores como aceitabilidade e harmonia da equipe, além de políticas de equidade e valorização desses trabalhadores. É ainda de extrema atenção estar disponível a escuta desses profissionais, especialmente no tocante a políticas e possíveis situações de preconceito.
A analista de Gestão de Pessoas do Centro Universitário UniBRAS Rio Verde, Cassia Garcia Cabral, explica que antes de qualquer passo para a contratação é preciso avaliar o ambiente interno. “O primeiro passo é conhecer a cultura da empresa, por meio de uma pesquisa anônima com a gestão e CEO da empresa. Depois realizar a mesma pesquisa com os colaboradores”, avalia.
Para promover uma cultura mais pacífica e harmoniosa, ela explica também que existem várias dinâmicas, todas com foco na diversidade e aceitação. A profissional de Recursos Humanos também revela a importância de palestras e momentos de escuta, com ampla participação dos colaboradores. “Acho interessante que essas dinâmicas abrangem não só a diversidade sexual, mas também leva para outros temas voltados contra a discriminação. É sobre o aceitar as pessoas como elas são”. (Texto: Bruno Correa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)