Conjunto de abordagens auxilia no rendimento acadêmico, saúde e vida em sociedade
Às vezes estudar parece óbvio. Para muitas pessoas, quando se pensa em um bom desempenho pedagógico, a receita parece simples. Envolve livros, momentos de atividades e leitura, assistir às aulas regularmente, e fazer anotações. Mas em meio a isso – que é importante, claro – existem outras coisas que influenciam no aprendizado, sendo uma delas as emoções. Quem está bem, se conhece melhor, e tem um bom relacionamento interpessoal, aprende mais. É por isso que hoje é necessário incluir a educação socioemocional na base curricular.
A ideia é simples: se você consegue ter uma melhor leitura dos seus sentimentos e emoções, vai conseguir lidar melhor com suas necessidades, logo terá também disposição e rendimento pedagógicos superiores. A virada de chave da educação socioemocional é ainda mais transformadora quando se pensa no coletivo, já que saber lidar melhor consigo mesmo também auxilia a lidar melhor com o outro, e a empatia entra em jogo.
O excesso de tecnologia, as dinâmicas sociais e mudanças familiares recorrentes, além da constante pressão por desempenho acadêmico e financeiro, são fatores que têm surtido efeito negativo em estudantes mundo afora, independente da idade. Especialistas alertam que as crianças de hoje passarão por muito mais desafios em suas vidas que as gerações passadas. É nesse cenário de um planeta em mudanças aceleradas que os futuros tomadores de decisão precisam hoje do alicerce da educação socioemocional, para colherem melhores resultados.
Em pesquisa realizada pelo Datafolha em julho de 2022, com mais de 1300 responsáveis de estudantes em todo o Brasil mostrou que 34% dos pais afirmam que seus filhos têm dificuldade em lidar com suas emoções, 24% se sentem sobrecarregados e 18% deprimidos. Uma outra pesquisa realizada em parceria da Secretaria de Educação do estado de São Paulo com o Instituto Ayrton Senna mostrou que 2 em cada 3 estudantes do ensino fundamental 2 e ensino médio na rede pública do estado apresentavam sintomas depressivos e/ou ansiosos.
Essas questões parecem ser ainda piores no ensino superior. Em uma pesquisa de 2019 – antes da pandemia – divulgada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 83,5% dos estudantes disseram ter problemas emocionais. Uma outra pesquisa da Universidade Federal da Bahia (UFBA) com cerca de 509 alunos da graduação apuro de 78,6% passa por algum tipo de transtorno mental.
As novas situações sociais decorrentes da pandemia – e suas mudanças que permaneceram após o fim dela – também reforçam a necessidade de abordagem da educação socioemocional. Em 2021, a Global Student Survey coletou dados com o objetivo de observar como esse meio estava sendo atingido pelos efeitos da COVID-19, e o Brasil ficou em primeiro lugar entre 21 países quando o assunto era
prevalência de transtornos mentais em estudantes, com 76% declarando ser impactados de forma negativa no período.
O que é educação socioemocional?
Reconhecida por pedagogos, psicólogos e outros especialistas em educação e saúde mental como uma aliada fundamental no ensino, a educação socioemocional se trata do desenvolvimento de competências específicas para o reconhecimento e manejo das emoções, resultando numa maior autonomia e tomada de decisões conscientes. Também tem o foco em beneficiar as relações sociais com o desenvolvimento da empatia e melhor capacidade de comunicação e responsabilidade com o outro.
Dentre os vários modelos existentes para o desenvolvimento da educação socioemocional, o Big Five recebe o maior destaque. Adotado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), essa abordagem engloba cinco habilidades específicas que são fundamentais para o desenvolvimento socioemocional do indivíduo. São elas: autogestão, engajamento com os outros, amabilidade, resiliência emocional e abertura ao novo.
Por meio dessa abordagem, os alunos podem desenvolver um conhecimento mais profundo de si mesmos, gerenciar os sentimentos, desenvolver maior resistência a emoções ruins, estarem mais atentos e preparados para lidar com os sentimentos dos outros, assim como desenvolverem laços sociais mais fortes e saudáveis.
Essa abordagem da educação socioemocional não só é importante para uma relação saudável consigo mesmo e com os outros, como também é construtiva na sociedade como um todo. É interessante entender que, sem conseguir construir
afetos e relações sociais duradouras, as pessoas não têm condições sustentáveis de se manterem e desenvolverem uma sociedade melhor.
Além disso, diversas pesquisas apontam que os pilares da educação socioemocional influenciam diretamente no rendimento escolar e acadêmico, já que a gestão emocional e autoconsciência são fundamentais no processo de aprendizagem. Ou seja, inserir a metodologia no currículo escolar é mais que ampliar as possibilidades desses alunos, é também fundamental para a efetividade da educação escolar.
Prova disso são as diversas pesquisas da psicopedagogia que comprovam que ambientes escolares com melhor rendimento são aqueles que adotam a educação socioemocional como componente fundamental da grade curricular. Além disso, as pesquisas também mostram que pessoas que desenvolvem essas habilidades costumam ser mais bem sucedidas e com melhores salários, além de colher melhores índices de saúde física e mental a médio e longo prazo.
A psicóloga organizacional no Ecossistema Bras Educacional, Carolina Almeida, explica que a educação socioemocional, no contexto escolar, está diretamente ligada a fazer desse ambiente de aprendizagem um local melhor e mais confortável de se estar.
“Consiste no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais dos estudantes, para que eles possam ter a capacidade de reconhecer as suas emoções, seus limites, suas aptidões, para que assim possam desenvolver um ambiente mais empático e acolhedor nas escolas”, explica.
Além disso, ela aponta que essa abordagem traz vantagens que extrapolam o ambiente acadêmico, e é muito efetiva na transformação da realidade dessas pessoas também fora da instituição de ensino.
“Temos como fator positivo as tomadas de decisões mais assertivas por parte dos alunos, responsabilidades com a rotina e com os outros, e capacidade de lidar com questões desafiadoras”. (Texto: Bruno Correa – Assessoria de Comunicação Ecossistema Bras Educacional)