Abuso de medicamentos psicotrópicos: entenda os riscos

Female hands holding pill and glass of water, woman taking supplements or antibiotic antidepressant painkiller medication to relieve pain headache, contraception side effects concept, close up view

Largamente difundidos na comunidade acadêmica, medicações psicoestimulantes não devem ser utilizadas sem acompanhamento médico

Estudar nem sempre é fácil. São muitos os obstáculos para que se mantenha uma rotina de estudos ordenada, eficaz e que traga resultados. Com o maior uso de dispositivos eletrônicos que roubam nosso foco cotidianamente, a tarefa fica ainda mais difícil. Por outro lado, conforme já mencionamos aqui no blog, a comunidade acadêmica tem passado por outros desafios no campo da saúde mental. É nesse cenário que o abuso de medicamentos psicotrópicos tem se tornado tema de atenção entre especialistas

Medicamentos como Venvanse e Ritalina – tradicionalmente indicados para melhorar a cognição de pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) – têm sido defendidos na internet como eficientes na melhora de resultados, com aumento indiscriminado nas vendas. 

Já os antidepressivos, ansiolíticos – como o famoso Rivotril – e estabilizantes de humor têm tido um papel chave no cotidiano de estudantes e docentes que convivem com quadros de adoecimento mental em uma comunidade acadêmica estressada. Com a pandemia, o abuso de medicamentos psicotrópicos disparou. De acordo com dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF), a venda desses medicamentos aumentou em 36% no período entre 2019 – antes da pandemia – e 2022. 

Mas o abuso de medicamentos psicotrópicos é perigoso, e pode trazer graves consequências quando administrado sem acompanhamento médico. Além disso, é sempre importante investigar as causas dos desconfortos mentais antes de recorrer de forma direta à medicação, sendo a psicoterapia um acompanhamento de peso no tratamento. 

Risco de dependência

Antes de optar por fazer o uso de medicamentos desta natureza, é sempre importante entender que seu uso indiscriminado traz graves riscos à saúde. No caso dos psicoestimulantes e muitos ansiolíticos, há já na caixa do medicamento a chamada “tarja preta”, indicativo de que a substância deve ser utilizada com cuidado, pois apresenta o risco de dependência física e psíquica. 

De acordo com a farmacêutica e docente do curso de Farmácia do Centro Universitário UniBRASÍLIA de Goiás, Elaine Cristina dos Santos, é preciso estar atento ao uso dos medicamentos tarja preta. “São fármacos que atingem diretamente o sistema neurocentral, e por isso podem causar dependência. Para comprá-los, é necessário a prescrição médica e controle da receita, e seu acesso não deveria ser facilitado a qualquer pessoa”. 

De acordo com a docente, farmacêuticos que fazem a venda irregular desses medicamentos podem ser penalizados, já que todas as vendas devem passar pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), podendo o profissional, em casos extremos, até ser preso. Essas medidas visam evitar o abuso de medicamentos psicotrópicos.

“Com as pesquisas que temos, o abuso de medicamentos psicotrópicos pode acarretar em diversos tipos de sintomas, como irritabilidade, ansiedade, alteração de humor, convulsões, arritmias, e risco de dependência física e psicológica”, alerta. 

A docente também expõe o crescimento no consumo das “smart drugs”, substâncias que têm efeito direto sobre a cognição dos usuários, dando uma acelerada nos resultados e sendo amplamente utilizadas por executivos, médicos e também estudantes. Entre eles está a flibanserina, um tipo de antidepressivo utilizado no tratamento de síndrome de desejo sexual hipoativo em mulheres, mas que vem se popularizando na comunidade acadêmica. 

Como farmacêutica, Elaine faz um alerta para quem faz o abuso de medicamentos psicotrópicos. “É importante procurar o profissional competente para orientação desse paciente, para que se faça a investigação clínica, sabendo realmente a necessidade do uso desse fármaco, a dosagem correta e seu devido acompanhamento médico”, argumenta.

Ela também explica que o acompanhamento é importante para entender se o fármaco está fazendo o efeito desejado, e se está tendo efeitos adversos. “É necessário ainda o acompanhamento do psicólogo e psiquiatra para que se obtenha sucesso no tratamento. Nós temos comprovação científica do sucesso desses fármacos, mas com o devido acompanhamento multiprofissional”. 

(Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação do Ecossistema Brasília Educacional)