Etarismo na educação: quando a idade se torna uma questão

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Para uma sociedade que valoriza a juventude, envelhecer gera estigma e atrapalha diariamente milhares de pessoas, incluindo no ensino superior

Chegar ao ensino superior é, para muitos, uma conquista. Num país tão desigual como o Brasil, estar em uma instituição de ensino superior é um privilégio. Mas também é verdade que já melhoramos bastante. É por isso que muitas pessoas na faixa dos 40, 50 ou mais têm buscado os cursos superiores em números cada vez maiores, e ao fazerem isso muitos experimentam o preconceito por sua idade, o etarismo na educação.  

Em março de 2023, uma aluna do curso de Biomedicina de 45 anos, estudante de uma instituição privada em Bauru (SP), foi alvo de comentários dolorosos por parte de colegas mais novas em redes sociais. O caso acabou viralizando e se cristalizando como um exemplo potente do etarismo na educação brasileira, que não poupa quem deseja aprender a qualquer idade, sem limitações. 

Embora o termo etarismo não se refira especificamente ao preconceito às pessoas consideradas “mais velhas”, e sim a qualquer idade, pessoas jovens tendem a ser privilegiadas em relação às com idade mais avançada, e isso em todas as camadas da sociedade. O etarismo na educação é só uma parte do etarismo que existe no mercado de trabalho, na família, nas relações sociais como um todo. 

Os últimos dados do Mapa do Ensino Superior 2023, fornecido pelo Instituto Semesp, mostram o quanto a idade ainda parece desempenhar um forte fator para ingresso e permanência na universidade. De acordo com o levantamento, somente 8,1% dos estudantes de cursos presenciais das instituições públicas têm 40 anos ou mais. Na rede privada a situação é ainda mais desigual, com 5,1%. Esses números são um recorte do etarismo na educação brasileira. 

Mas também há boa notícia: nos cursos por modalidade EaD, esses números crescem substancialmente. Os dados do mesmo estudo mostram que, entre os estudantes dessa modalidade, 21,2% tem 40 anos ou mais, enquanto na rede privada os números são ainda mais esperançosos, com 30,1%. 

Perspectivas 

Se o ensino superior parece um desafio para pessoas mais velhas, então talvez seja possível adaptá-lo. Essa é a proposta da iniciativa Tempus, presente nas instituições de ensino do Ecossistema BRAS Educacional. Nela, os alunos optam por cursar a graduação de forma presencial, mas nas sexta-feiras à noite e durante o sábado. Por outro lado, os docentes se preparam para lidar de forma específica com esses estudantes, extraindo suas possibilidades e sanando os empecilhos que surgem no caminho. 

Não direcionada especificamente ao público com idade avançada, mas sim a todos aqueles que têm restrições de horário para cursar o sonhado ensino superior – como questões profissionais e familiares – a iniciativa atrai muitos estudantes acima dos 40 anos, que não tiveram a oportunidade de cursar o ensino superior quando mais jovens. Nesse sentido, as turmas Tempus acabam sendo um instrumento poderoso contra o etarismo na educação.

Docente em uma das classes Tempus na UniBRAS Santa Inês, o professor e especialista em Direito Hilton Jovita relata que, nessa modalidade, os alunos acima dos 40 anos são a maioria. Para ele, a maior dificuldade deles não está na idade, mas sim no fato de que muitos chegam à sala de aula após uma longa semana de trabalho. 

“O maior desafio é manter a motivação da turma elevada, tendo em vista que é um público que em sua maior parte já vem de uma semana desgastante de trabalho. É necessário manter a moral elevada para evitar a evasão”. 

Mas ele também relata as vantagens de se trabalhar com esses alunos, destacando o respeito que esses estudantes costumam ter pelo professor. Também reforça que muitos deles dispõem de conhecimento em outros cursos de nível superior.

Como estratégias para solucionar os problemas de etarismo na educação, Hilton destaca a necessidade de explorar melhor a diversidade da comunidade acadêmica. “Acredito que a interação [entre os alunos], com a finalidade de explorar as competências desse público é a melhor saída. Principalmente em atividades nas quais a experiência pode ser mesclada com a juventude dos demais alunos”, argumenta. 

Já o estudante de Direito do UniFACTHUS, Eurípedes Balsanufo, garante que o etarismo não é um empecilho para seguir com seus estudos. Atualmente no segundo período da graduação, ele se orgulha em falar sobre o tema abertamente. 

“Eu posso estar com 59 anos, mas sou jovem naquilo que estou empreendendo. Meu vigor físico evidentemente não é o mesmo de um jovem, mas a minha capacidade intelectual e cognitiva me proporcionam até que eu me mova sem desperdiçar tantas energias que os jovens desperdiçam”, garante. 

Com foco na qualidade de vida, ele diz que não vai parar de estudar após concluir a graduação. “Eu sou um ser pensante, em evolução. Deus já inventou tudo, eu sou apenas um descobridor daquilo que ele já fez”. 

(Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação do Ecossistema BRAS Educacional)