IA na educação: o que dizem os professores

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Inteligência artificial já é realidade em salas de aula, e docentes relatam suas primeiras impressões

Uma nova fronteira tecnológica vem marcando pesado o processo de aprendizagem, e colocando docentes e alunos a prova. A inteligência artificial é uma nova ferramenta que não se pode mais ignorar, e enquanto inicialmente professores verificaram o uso indevido de ferramentas como Chat GPT por alunos, hoje o uso da IA na Educação é um assunto bem mais amplo.

As ferramentas da IA na Educação são variadas, e quando bem utilizadas podem beneficiar o aprendizado de inúmeras maneiras. Para além da ideia de que a inteligência artificial é inimiga, as novas tecnologias podem ser aliadas em salas de aula. E quem é muito resistente às inovações pode ficar para trás, algo muito prejudicial tanto no mundo acadêmico quanto no profissional.

É pensando nesse novo horizonte de possibilidades e riscos que especialistas em Educação convidam docentes de todos os níveis a se ambientarem melhor com a IA. No Brasil, o MEC já tem iniciativas para incluir a inteligência artificial na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), e em 2024 lançou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), já de olho em metas para a inclusão das novas tecnologias.

Nacionalmente, o Piauí foi o primeiro estado a sair na frente, introduzindo a disciplina de Inteligência Artificial a partir do último ano do ensino fundamental e nos 3 anos do ensino médio. A iniciativa já é realidade em todas as escolas do estado desde o início de 2024, sendo o Piauí reconhecido pela Unesco como a primeira legislação do continente americano a incluir a IA como disciplina obrigatória e universal.

Especialistas indicam que a presença da IA na Educação pode atrair uma série de facilitadores na gestão das instituições de ensino, auxiliar na diminuição da evasão escolar e introduzir novas variantes e possibilidades à aprendizagem e qualificação profissional. No entanto, nada disso é possível de forma igualitária aos estudantes brasileiros se houver barreiras geográficas e financeiras à conectividade.

Para entender um pouco mais sobre essa nova perspectiva, conversamos com docentes do Ecossistema para compreender suas percepções sobre a correta introdução da IA na Educação, seus riscos e possibilidades.

O que queremos com a IA?

O pedagogo e docente da UniBRAS Digital, Rafael Moreira, defende que antes de apontar se a inteligência artificial é boa ou ruim para a área educacional, é preciso antes conhecê-la e entender seus mecanismos. Para ele, não compete necessariamente ao docente indicar como positiva ou negativa a efetividade da IA, mas sim se aprofundar na temática e compreender as possibilidades pedagógicas.

“Tem que se fazer uma vivência real no tema, uma imersão, para que o aluno entenda o que é aquela tecnologia. O professor não pode pensar que a inteligência artificial vai salvar o mundo. Nós precisamos saber sobre a intencionalidade, como funciona um aplicativo confiável e o que a IA pode demandar”, explica.

O especialista frisa que não se pode acreditar que a IA na Educação vai resolver os problemas que não foram resolvidos pelos “humanos”, mesmo porque, segundo ele, não se pode acreditar que a inteligência artificial está “pensando mais que nós”. É necessário refletir sobre as estratégias e os objetivos que se querem alcançar como um todo.

“Na verdade, a tecnologia está sendo programada para resolver coisas que nós estamos demandando. E a partir daí, nós precisamos ter essa relação muito proximal entre teoria, prática e a tecnologia. Hoje há quem entenda mais e outros menos sobre a IA, e isso estimula a criação de verdades e mitos sobre o tema”.

Ferramenta incomparável

Criar planos de aprendizagem personalizados, sugerir cronogramas, resumir tópicos complexos e até recomendar rotas de estudo a partir das dificuldades identificas pelo aluno. Essas são algumas das funcionalidades possíveis com o uso da IA na Educação, de acordo com o docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Roberto Duarte. Mas eles explicam que o uso dessas plataformas merece também cautela.

“Como organizadora de estudos, a IA é incomparável. Também é uma excelente fonte de primeiras referências em pesquisa sobre temas desconhecidos, com apresentação de conceitos-chave e direcionamento para investigação em fontes especializadas. Mas não é uma fonte definitiva de conhecimento, já que retira suas informações da internet, ecossistema em que o verificável e o falso coexistem”.

O docente explica que as chamadas “alucinações”- situações em que informações falsas soam fortemente convincentes – são um risco real. Ele aponta, no entanto, que o maior risco percebido no uso incorreto da IA está em utilizar essas ferramentas para a resolução de exercícios e tarefas.

“A facilidade imediata é tentadora, mas o resultado é nefasto, porque o verdadeiro valor desses exercícios não está na resposta final, mas sim no processo mental para chegar até ela”, defende. Para Roberto, é justamente nesse processo de resolver exercícios tidos como “difíceis”, de tentativa e erro, que acontecem as conexões neurais para se desenvolver o profundo conhecimento sobre a matéria.

O professor argumenta que o aluno que utiliza dessa manobra está abrindo mão da oportunidade de aprender. “Essas conexões neurais são a razão fundamental do estudante frequentar a instituição. O ambiente acadêmico existe para desafiar o raciocínio lógico, criar resiliência intelectual e desenvolver a capacidade de resolver problemas complexos”.

Sendo assim, Roberto considera que a relevância da IA na Educação está em libertar o aluno de tarefas mecânicas organizacionais e de síntese inicial. Do contrário, o uso indevido dessas ferramentas desestimula o desenvolvimento do espírito crítico, base no pensamento científico.

“A função da IA é ser um ponto de partida, um guia inicial que deve ser incessantemente confrontado com fontes primárias e autorizadas”, diz.

Preocupação na educação básica

O pedagogo e docente do Centro Universitário UniFACTHUS, Bruno Pires, vê com bons olhos o uso de IA na Educação como ferramenta de pesquisa, desde que alunos e professores a utilizam com consciência e equilíbrio. Mas como docente também fora do ensino superior, ele tem uma especial preocupação com as consequências da inteligência artificial na educação básica.

“São crianças e adolescentes em processo de construção de identidade, como novos seres culturais. Nessa etapa é crucial o desenvolvimento da imaginação, criatividade e raciocínio crítico. Se essas ferramentas forem utilizadas excessivamente, ou mesmo de maneira indiscriminada, como já estamos verificando, esses estudantes podem deixar de exercitar suas próprias capacidades e se tornarem dependentes dessas tecnologias”.

O especialista acredita que caso não haja um bom direcionamento da IA na educação básica, haverá consequências no futuro. Por isso ele defende uma maior reflexão pedagógica, para que o professor possa desenvolver essas habilidades nos estudantes, fazendo com que eles percebam que pensar com autonomia é muito importante para o próprio desenvolvimento deles.

“As novas tecnologias podem ser aliadas, mas jamais devem substituir o processo de construção ativa para o desenvolvimento integral dos estudantes. Então seu uso precisar ser mediado e dosado pelo professor”. (Texto: Bruno Corrêa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)