Relatos de docentes mostram as perspectivas delas, de acordo com suas realidades pessoais e coletivas
É comum em qualquer estudo demográfico sobre as instituições de ensino e pesquisa destacarem a presença desproporcional de mulheres no meio acadêmico. Elas são maioria de docentes nos ensinos básico e médio, mas minoria no ensino superior – onde estão os melhores salários. Também há presença menor na pesquisa, sendo menos representadas na ciência, tanto do lado das pesquisadoras quanto do lado dos pesquisados, conforme abordado recentemente aqui no blog.
Se a presença das mulheres no meio acadêmico já é menor em relação aos homens, elas também estão muitos passos atrás deles no mercado de trabalho em geral, principalmente em cargos de liderança, na política, e em diversos outros nichos, assunto que também já foi abordado aqui no blog. Questões legislativas – como exigência de equiparação salarial, campanhas de conscientização, alertas de órgãos globais importantes, são esforços bem-vindos na construção de uma realidade melhor para as futuras gerações.
O movimento feminista tem papel chave para mudar esse cenário, e tem feito rígidas cobranças sobre governos e autoridades globais. Recentemente, um estudo da ONU provocou espanto ao apontar que, para um perfeito equilíbrio entre homens e mulheres no planeta, no ritmo empregado atualmente, serão necessários cerca de 300 anos.
É que o ritmo que se vê em algumas regiões do globo é diferente de outras, muitas das quais há nítida segregação de gênero no acesso à educação, profissionalização e comunicação. Os hábitos sexistas e abusivos fazem parte desse cenário, por meio de comportamentos abusivos e excludentes e políticas públicas discriminatórias, muitas vezes reforçadas pelo fundamentalismo religioso. A política, nesse sentido, é instrumento de luta, conforme também já abordado aqui no blog.
Mas é importante, acima de tudo, escutar. É por isso que convidamos algumas docentes do Ecossistema BRAS Educacional, nesse dia Dia Internacional da Mulher, para entender delas quais são os maiores desafios das mulheres no meio acadêmico. Abaixo há relatos de docentes que também atuam diretamente na pesquisa, no meio profissional e também tem, obviamente, várias questões pessoais para lidarem. Também por respeito à elas, as entrevistas foram preservadas o máximo possível à seus relatos.
“Conscientização e diálogo” – Mychelle Borges Pereira – Coordenadora da UCBRAS
“Eu penso que para haver mais equidade é preciso conscientização, diálogo e reflexão. Eu acho que é a partir daí que nós vamos conquistando nosso espaço como mulher. É preciso dialogar mais sobre essas temáticas”.
“Esforço coletivo e contínuo para combater as desigualdades” – Laura Mendonça – Secretária Acadêmica Geral do Ecossistema Bras Educacional
“Acredito que a equidade de gênero na comunidade acadêmica é um tema crucial e em constante evolução. Na minha visão, para que as mulheres alcancem equidade na comunidade acadêmica, é fundamental que se adotem medidas como implementar políticas institucionais que promovam a igualdade de gênero, como metas de contratação e promoção de mulheres em cargos acadêmicos. Também é preciso criar programas de mentoria e apoio específicos para mulheres pesquisadoras e docentes, visando atender suas necessidades e promover seu desenvolvimento profissional.
Penso também na importância de campanhas de conscientização e capacitação sobre viés de gênero, garantindo que todos na comunidade acadêmica estejam cientes e comprometidos com a promoção da equidade, além do incentivo a participação de mulheres em eventos acadêmicos, conferências e comitês de avaliação, garantindo sua representatividade e visibilidade.
É importante que haja um esforço coletivo e contínuo para combater as desigualdades de gênero na academia e criar um ambiente mais inclusivo e diversificado para todas as pessoas.”
“Precisamos estar juntas” – Sanmia Shunm – Diretora Acadêmica do Ecossistema Bras Educacional
“Precisamos nos fortalecer, nos ajudar, ser inspiração umas para as outras. Precisamos estar juntas, de mãos dadas para alcançar os nossos objetivos como mulheres, mães, filhas, esposas e pesquisadoras. Afinal, para nossa felicidade, precisamos nos realizar nos diversos papéis que exercemos.
É preciso que a resiliência, o otimismo, a coragem e a determinação estejam sempre evidentes na nossa caminhada”.
“Que a nossa trajetória seja inspiração para outras mulheres. Que juntas possamos praticar mais amor próprio e menos competição, e possamos tornar o ambiente acadêmico um lugar não só de pesquisa, mas também de sororidade, onde nós mulheres possamos encontrar espaço profícuo para nosso desenvolvimento.”
Como inspiração, a docente também cita Cora Coralina, que afirma ser uma mulher de luta.
“Eu sou aquela mulher, a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos e ser otimista.”
(Cora Coralina)
“Uma educação amparada na igualdade desde a infância” – Lilian Regina – bióloga e docente do Centro Universitário UniBRAS Montes Belos
“Creio que minha área ou qualquer outra, estas diferenças salariais se dêem pela cultura patriarcal que prevalece em qualquer ambiente. Na área acadêmica é fácil nos livrarmos da diferença salarial, uma vez que há uma política institucional amparada em lei, o plano de carreira. Porém, o que não nos protege é o fato de que a responsabilidade pelos filhos, família em geral e casa sejam sempre apoiados na presença feminina, o que nos atrapalha no investimento da carreira.
Um homem facilmente pode trabalhar e fazer um mestrado e doutorado, isso porque a casa ‘não é da sua responsabilidade’. Já uma mulher precisa se acomodar às fases das crianças e o ‘melhor momento’ para investir nisso. É daí que surge a diferença salarial. Mesmo havendo leis sobre equidade no quesito de plano de carreira, as mulheres não têm a mesma oportunidade para usufruírem dessa ascensão, pois elas sempre estarão atreladas a outras questões que não veremos na vida pessoal e profissional masculina.
Portanto, não são leis que mudarão essa realidade, mas uma educação fortalecida e amparada na igualdade de gênero desde a infância. Com o garoto brincando de bonecas e sabendo que esta será sua realidade também na vida adulta. E o preconceito começa ali, quando ele ganha carros e as garotas fogões e ferros de passar de brinquedo. O que estamos mostrando nessa terrível combinação de educação entre gêneros?”
(Texto: Bruno Correa – Assessoria de Comunicação Ecossistema Bras Educacional)