Presença de negros no ensino superior: um olhar sobre a desigualdade histórica

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Inclusão cresce, mas ainda há longo caminho para a equidade

Se estar em uma instituição de ensino superior ainda é um privilégio reservado para poucos no Brasil, esse caminho é ainda mais estreito quando não se tem a pele clara. O preconceito e a desigualdade econômica – que evidentemente afeta mais os pretos e pardos – ainda são gargalos importantes na inclusão e presença de negros no ensino superior.

Formando 55,5% da população, de acordo com o Censo do IBGE de 2022, os pretos e pardos conformam 47% de negros no ensino superior, de acordo com o mesmo IBGE. Além disso, 36% dos jovens brancos entre 18 e 24 anos estão ou já concluíram o ensino superior, enquanto entre pretos e pardos esse percentual é de 18%. Essa disparidade demonstra um padrão claro de desvantagem para os negros no ensino superior.

Quando se fala em docentes, a presença de negros no ensino superior é ainda mais prejudicada. De acordo com uma pesquisa do Instituto Semesp, em 2020, somente 24,7% dos professores do ensino superior no país eram negros. Esse percentual mostra que além da dificuldade de entrada, a permanência acadêmica é ainda mais difícil para esse grupo.

Ainda assim, esses números vêm crescendo. De acordo com o INEP, em 2010 os negros formavam 41% dos estudantes do ensino superior. Essa mudança vem sendo percebida graças a diversos fatores, mas principalmente por políticas públicas voltadas a população negra, como as cotas raciais. As vagas reservadas aos estudantes de instituições públicas e pessoas de baixa renda também colaboram de forma indireta.

Para diversos pesquisadores, a presença de negros no ensino superior é importante não só pelo fator de inclusão educacional, mas de inclusão social como um todo, com foco nas áreas profissional e econômica. É que a educação superior é a principal forma de ascensão social no Brasil, com consequências que vão muito além do ambiente acadêmico.

O pedagogo e docente da UniBRAS Digital, Rafael Moreira, afirma que apesar das evoluções, a desigualdade ainda é regra. Para ele, é importante pontuar a existência de fatores estruturantes no cenário histórico e a falta de condições sociais que levam a isso, passando desde o período de escravização do povo negro, seguindo pela falta de políticas públicas no pós-escravidão e, por último, o preconceito.

“Hoje temos várias políticas públicas e projetos de inclusão e integração correlacionadas com a inclusão, como leis de cotas, programas de bolsas, programas de políticas afirmativas, entre outras. Tudo isso é uma grande

oportunidade de ressignificar o passado excludente, e que dava preferências”, explica.

Para o pedagogo, essas novas políticas públicas devem seguir adiante. “Elas devem ser parte mais ampla, para que todos saibam das suas existências e possam gozar dos direitos de uso, não sendo vistas portanto como privilégios, e sim como oportunidades”.

Uma bela história

Que existe racismo num país como o Brasil é um fato inquestionável, mas felizmente nem sempre as experiências são negativas. A bióloga e docente da UniBRAS Juazeiro, Carla Regine Reges Silva França, conta, com alívio, que nunca passou por alguma situação de racismo na academia.

Se o assunto é presença de negros no ensino superior, Carla foi além. Não só se graduou, como é mestre e doutora, com histórico de atuação na Embrapa. Sua experiência é tão positiva, que a docente ficou com receio se seria o melhor personagem para a nossa matéria. Mas falar sobre a presença de negros no ensino superior não necessariamente precisar ser – nem deve ser – sobre histórias ruins.

No entanto, ela revelou que percebe uma presença menor de negros no ensino superior. “No mestrado existiam quatro colegas negros, numa turma de dezesseis pessoas. No doutorado, em torno de cinco pessoas, num universo de pouco mais de vinte”, conta.

Para ela, isso ocorre por uma falta de políticas públicas que tenham efetividade desde as bases da educação. A docente relata que, em seu caso, graças aos esforços dos pais, teve a oportunidade em estudar num dos melhores colégios da região.

“Uma pessoa negra sendo representada dentro da academia é um fato muito interessante. As pessoas nos vêm e idealizam isso, de poderem estar lá também”. (Texto: Bruno Correa – Assessoria de Comunicação Ecossistema BRAS Educacional)